quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mastodon, uma entrevista


Depois de mais de dez anos inovando dentro da música pesada, o Mastodon decidiu mudar. Apontado com uma das bandas mais inventivas dentro do que é conhecido como new wave of american heavy metal, o grupo cansou dos temas complexos, álbuns conceituais e melodias intrincadas que encantaram o mundo em discos como “Leviathan” (2004) e “Blood Mountain” (2006). A ficha caiu na turnê do último álbum, “Crack The Skye”, cuja íntegra foi tocada durante os shows, o que acabou apontando para a gravação do DVD “Live At Aragon”, em 2009, que foi lançado em março desse ano.

Isso, ao menos, é a história que nos contou o guitarrista Bill Kelliher, por telefone, direto dos States. Segundo ele, o novo álbum, “The Hunter”, é uma espécie de “reset” na banda, “um renascimento, com novo modo de trabalhar e um produtor diferente”. Ele se refere a Mike Elizondo, oriundo do hip hop e que assinou o elogiado “Nightmare”, do Avenged Sevenfold. Mas calma que Bill, Brent Hinds (guitarra e vocal), Troy Sanders (baixo e vocal) e Brann Dailor (bateria) não arregaram nas gravações, o que resultou num álbum pesado, mas melodioso, com um repertório variado de músicas propositalmente mais enxutas.

A capa de “The Hunter”, de certa forma, também reflete essa mudança. No lugar de desenhos enigmáticos, dessa vez o quarteto encomendou uma escultura ao artista plástico AJ Fosik, que fabricou a cabeça de uma criatura em madeira. A feitura da escultura foi registrada em vídeo (clique aqui para assistir). Bill Kelliher falou das músicas disponíveis quando a entrevista foi feita, há uma semana, citando outras bandas sem fazer cerimônia, da participação no álbum tributo a ZZ Top e do interesse em tocar no Brasil. Será? Vejas abaixo a íntegra da entrevista:

Rock em geral: O que você pode nos dizer do novo álbum, “The Hunter”?

Bill Kelliher: São 13 músicas no total, e 15 na versão deluxe. Não é um disco conceitual, foi um disco feito com liberdade para todos se divertirem. Nenhuma música passa dos cinco minutos (na verdade duas passam). Compusemos o disco entre março e abril e gravamos em maio. Fizemos todas as músicas, exceto uma, que era das gravações do “Crack The Skye”, que nunca havia sido lançada, e que é um pouco mais pesada. Esse disco é o tipo de disco que fizemos sem parar muito. Quando fizemos o “Crack The Skye”, tínhamos um grande conceito, músicas com 15 minutos e tudo o mais no jeito que fizemos no disco. Não havia espaço para uma música comum e divertida. Com “The Hunter” já escrevemos músicas de um tamanho menor, tem músicas mais pesadas, mais leves, compusemos tudo o que queríamos.

REG: A música “Curl Of The Burl”, que você já soltaram, soa como um stoner rock. Esse seria um bom retrato do disco?

Bill: Pensamos isso quando escrevemos essa música, mas não é um disco stoner. Essa música em particular é meio stoner, meio Queens of the Stone Age. Mas o ponto é que nos desenvolvemos sob vários aspectos. Essa música é apenas uma no disco, a maioria das músicas é rápida, urgente. Nos concentramos nas harmonias vocais, nas melodias, em compor mais melodias do que já fizemos antes.

REG: Você acha, então, que esse disco é mais digerível, mais fácil de ouvir, para alguém que nunca tenha se interessado pelo Mastodon?

Bill: Sim, é definitivamente mais acessível. No passado, no nosso primeiro disco, “Remission”, há muitos gritos, guitarras super altas… Não sabíamos cantar na época, colocávamos os vocais muito atrás dos instrumentos, não ficava muito claro. Agora, olhando para trás, vimos que queríamos usar vocais mais melódicos. E, pela primeira vez, acho que fizemos algo mais acessível, porque há um pouco de cada um de nós no disco.

REG: Você acha que com esse álbum vocês serão mais entendidos pelo público, e por um público maior?

Bill: Não. Fizemos o disco assim porque era o jeito que as músicas foram aparecendo, eu acho. Não nos importamos muito se vamos ser aceitos pelo público, nunca agimos assim. Posso falar por todos na banda que não nos importamos com isso. Se quiséssemos ser uma banda pop, para sermos aceitos pela massa, faríamos um tipo de música completamente diferente. Fazemos música para nós mesmos, um para o outro, para agradar uns aos outros, com riffs de guitarra, bateria pesada e tudo o mais. Tentamos nos desafiar uns aos outros, nós não estamos nem aí se muitas pessoas vão gostar. Ficamos satisfeitos quando isso acontece, mas não é por aí, nosso ponto é a gente se divertir em primeiro lugar.

REG: Há um vídeo lançado por vocês, com a música “Black Tongue”, que mostra a feitura da escultura que aparece na capa do disco. Que ideia veio antes? A da escultura ou a da imagem da capa? Essa escultura tem algum significado no disco, embora ele não seja conceitual, como você disse?

Bill: A escultura foi feita por nossa encomenda. O vídeo mostra como ela foi feita, depois fizemos uma foto dela e colocamos na capa. Queríamos usar algo diferente. Aliás, tudo é diferente nesse disco. O engenheiro de som é diferente, o produtor é diferente, não é um disco conceitual. Queríamos uma abordagem não adotada antes, como tudo nesse trabalho, então achamos esse cara e pedimos para ele fazer alguma coisa para nós. Enquanto ele fazia a escultura, rodamos o vídeo, para mostrar depois.

REG: Vocês disseram para ele o que queriam ou ele saiu fazendo o que ele tinha na cabeça?

Bill: Nós não ficamos dando sugestões para ele, mas o trabalho dele é quase sempre esculturas de cabeças de animais. Sabíamos que sairia algo sinistro, uma cabeça de uma criatura. Só dissemos: “Hey, faça alguma criatura maluca”. Por isso há um monte de bocas e tal. Nós confiamos nele para fazer algo para nós e ficou bem legal.

REG: Falando sobre outra música que já foi lançada, “Spectrelight”, é a mais pesada das três. Como você vê essa música dentro do álbum?

Bill: Essa música foi feita por mim e pelo Brent (Hinds, guitarrista/vocalista), nós tínhamos partes dela guardadas por um tempão. Então começamos a trabalhar mais nessas partes e soou legal. Ela ia ficando cada vez mais pesada, na medida em que ensaiávamos. Mudamos muitas coisas, a pegada, o andamento, para ficar mais cadenciada e malvada. É nela que o Scott Kelly, no Neurosis, canta, era perfeitamente o estilo dele, porque é uma música bem pesada. Eu coloquei umas harmonias no estilo Iron Maiden nas guitarras. É uma musica mutante, que não para, do início ao fim. É boa para se tocar ao vivo.

REG: Vocês lançaram o DVD “Live At Aragon” no início do ano…

Bill: Queríamos ter gravado o show com o “Crack The Skye” tocado na íntegra, ao vivo, antes que parássemos de tocá-lo. Fizemos isso em toda a turnê e reservamos essa data para fazer a gravação. Não tínhamos nada lançado gravado ao vivo, então achamos que era a oportunidade perfeita para gravar o “Crack The Skye” e outros 45 minutos de música, e foi o que fizemos.

REG: Esse DVD fecha um ciclo na banda, para agora, com o “The Hunter”, começar um novo período?

Bill: Para mim é como se tivéssemos dado um “reset” na banda, é um renascimento. Buscamos um novo modo de trabalhar, com um produtor diferente, e acho que fizemos um disco maravilhoso. Não quero falar a mesma coisa de sempre, que fizemos isto ou aquilo, mas demos uma quebrada na nossa carreira com esse disco. Eu quero ver a reação das pessoas - o disco sai em duas semanas - e depois sair em turnê, que começa no final de outubro, e ver o que acontece. É muito legal ter um disco novo e mostrar pela primeira vez.

REG: A intenção, então, é tocar muitas musicas do “The Hunter” na turnê…

Bill: Ah, vamos tocar umas cinco ou seis, não vai ser como o “Crack The Skye”, no qual tocamos todas as músicas. Não é hora de fazer isso.

REG: E essa turnê? Passa ou não pelo Brasil?

Bill: Eu adoraria, nunca estive aí. Quem sabe no ano que vem? Vamos fazer muitas turnês em 2012, mas o mundo é muito grande, há muitos lugares para se tocar. O Brasil é um dos lugares favoritos para ir, todos falam muito do público daí.

REG: O Mastodon é considerado um dos pontas de lança da new wave of american heavy metal. Vocês se consideram parte desse, digamos, movimento?

Bill: Acho que é uma honra participar disso. Bem, não somos verdadeiramente heavy metal, somos um pouco diferente, mas é legal ser reconhecido como isso, como uma nova onda do heavy metal. Eu lembro quando o Metallica apareceu, nos anos 80, eles citavam a new wave of british heavy metal, de Motörhead, Iron Maiden, Judas Priest. É bom fazer parte de algo, daqui a 20 anos vão citar a new wave of american heavy metal e vão citar o Mastodon. Isso me faz bem.

REG: Vocês gravaram uma música para o tributo ao ZZ Top (”Just Got Paid”). Eles são realmente uma influencia no som de vocês?

Bill: ZZ Top é uma dessas grandes bandas americanas que todos nós escutamos desde pequenos e continuamos ouvindo. Eles são perfeitos tocando rock e blues, têm ótimas músicas. Queríamos tocar uma música de alguém, e rolou esse convite do disco de covers em homenagem ao ZZ Top e foi muito legal.

Clique aqui para ouvir a íntegra do álbum “The Hunter”

por Marcos Brrgatto

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